• Independência é a real cultura!

Olá Reggaenautas,

Como nunca escrevi aqui sobre o Ponto de Equilíbrio, decidi falar um pouquinho desse último CD que lançaram recentemente. Seu terceiro álbum, chamado "Dia Após Dia Lutando", é uma obra de arte, musicalmente falando.

O álbum conta com participações super especiais, como o lendário grupo "The Congos", o também lendário ex-Black Uhuru "Don Carlos", nosso conhecido militante brasileiro "Marcelo D2" e o inspirado e magnânimo "Jorge du Peixe", atual vocalista da Nação Zumbi.

Como muitos já devem ter me ouvido falar, Ponto é meu "porto seguro". Há cinco anos, quando tentava loucamente baixar suas poucas músicas demonstração, e as apresentava aos meus irmãos, já dizia: - "essa será uma banda fantástica". De lá para cá, muitas de minhas ações foram orientadas pelas mensagens desses caras. Por isso, sinto-me muito a vontade em falar do trabalho dessa banda, que merecidamente é reconhecida e a cada dia se coloca na cena como a principal Reggae Roots do Brasil.

Voltando a falar sobre o álbum, o que mais me chamou a atenção é a linha tênue que ele segue. Em todos os sentidos, desde o característico gingado do mega baixo até a voz ainda mais caracterítica do Hélio Bentes. Tênues demais! Está seguindo a escola jamaicana, que em determinados momentos, parece que estamos ouvindo a mesma música.

Sabemos que para conquistar cada vez mais espaço, mais seguidores e mais mídia, o som tem de ser imparcial, simples e até mesmo tênue. Justamente o que Ponto nunca foi, imparcial e tênue, simples sim. Sempre tiveram um engajamento extremamente social e político, devido à filosofia Rastafari (orientação da banda) e à sua terra natal - Vila Isabel-RJ. Orientações essas em menor escala nesse álbum, que visivelmente segue muito mais uma linha de qualidade e harmonia sonora impecáveis.

Os atuais produtores da banda, aproveitaram as tours de Don Carlos e The Congos pelo Brasil no ano passado, para fazerem, como eles chamam, de "encontro musical". O fato é que quem trouxe esses caras pra cá, são as mesmas pessoas que os produzem e que fizeram a mesma coisa com suas outras bandas. Aproveitaram o nome consagrado dos convidados, para pegarem uma carona nacional e internacional. E isso se refletiu no trabalho final, fazendo a banda com o maior diferencial do Brasil, tornar-se igual às bandas gringas. Isso se faz desnecessário, tendo em vista que nós, brasileiros, temos tanta qualidade quanto às bandas de fora e não devemos querer copiá-los, nossas realidades são distintas e não menos problemáticas.

Outra coisa que percebi nesse álbum, é que ele possui muitas orações, aborda temas atuais, como o aquecimento global, com a música "Calor", volta às origens com a "África 2" e nos tira de órbita com "Reggae de Terreiro", mas não tem nenhum "hit", vamos dizer assim. Acredito que a música que representará essa fase, será a "Santa Kaya", que é a primeira música deles que aborda especificamente esse assunto, com apelo direto aos políticos. Mas não vou pegar pesado com isso, pois vindo de Ponto, qualquer coisa é possível, pois quem escolhe o rumo não são eles, mas sim Jah Rastafari.

De todas as músicas, a "Vila Isabel (Zona Norte)" é a que mais tem a cara deles, assim como a "O que eu vejo" e a fantática "Música de Jah", que tinham sido gravadas bem antes das demais, em comemoração aos 10 anos de banda.

Ah, mais uma coisa, gosto muito do back-vocal da rapazeada, mas tinham "evoluido" para um back-vocal feminino no álbum anterior "Abra a Janela", lindo na música Reggae. Quem não lembra da "Poder da Palavra" cantada dessa forma? "A palavra som é poder..."

Gostei muito do álbum... Muita luz nessa caminhada Ponto de Equilíbrio!

Paz de Jah!

Abraços,
Fábio Judah
Sessão Reggae - Independência é a real cultura!

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1 Response for the "Ponto de Equilíbrio - Álbum "Dia Após Dia Lutando" | Humilde opinião"

  1. Fala I-rmão!

    Não escutei o cd novo do Ponto, mas fiquei com vontade de escutar.

    Quanto ao anterior, Abra a Janela, achei que foi um tiro n'água. Não sei se a mudança ocorrida do cd independente para o lançamento na gravadora foi arquitetada pela banda ou por produtores, mas o resultado não me agradou.

    Lágrimas de Jah, por exemplo, caiu no meu conceito na versão nova. Graças e louvores também já teve versões melhores na banda Laços de Fé, do Lucas Kastrup. Sem falar no single que fala sobre o amor mundano, faixa que foi claramente composta para tentar emplacar a banda na cena musical brasileira. Infelizmente não colou.

    Respeito o trabalho do Ponto de Equilíbrio, pois representa para mim o autêntico reggae roots rastafarI brasileiro, fazendo muito mais bonito e mais verdadeiro do que bandas "consagradas" na cena nacional como Tribo de Jah, Natiruts e (sic!) Cidade Negra.

    Mas vejo que a banda chegou em um momento que vai definir não só o seu futuro como o de todo o cenário do reggae no país. O espaço do reggae é restrito, paga mal e seu público é extremamente exigente e implacável com as bandas e artistas, execrando aqueles que "se vendem" para o mercado.

    Por outro lado, o povão aceita tudo que é empurrado guela abaixo pelos jabás dos produtores e das gravadoras. Ou quase tudo. "Abre a Janela" não caiu bem e deixou uma azia. Escutei na rua as pessoas reclamando da voz irritante do Hélio e seus berros característicos. Ouvi também muita reclamação a respeito da temática do single lançado, taxado de "musiquinha de amor sem sal nem açucar".

    Dos reggueiros escutei coisa pior: Ponto de Equilíbrio traidor do movimento.

    Não discordo completamente das opiniões do povão e do fã tradicional do reggae. Mas acredito que o Ponto de Equilíbrio vai encontrar uma maneira de se inserir na Indústria Cultural sem manchar sua reputação.

    Vamos emanar as mais Positivas Vibrações ao Ponto de Equilíbrio e torcer para que eles abram caminho para outras com a mesma qualidade musical e compromisso social e espiritual. Bandas como Mato Seco e Cultivo estão só esperando uma brecha.


    Abração e parabéns pela crítica bem fundamentada.
    Gabriel Dread

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